Ainda falta ameaçar alguém?
Por Fernando Guerra (A Bola)Pode ter-se tratado de coincidência do arco-da-velha, mas dá que pensar, principalmente por tudo ter ocorrido na semana que antecedeu a visita do FC Porto ao Estádio da Luz. Em jantar, cuja motivação me escapa, Pinto da Costa deixou o país em suspenso ao anunciar grossa tempestade quando for dada publicidade ao que, pelos vistos, por ora, é tesouro a que grupo restrito tem acesso.
Aproveitou para calcar o espírito e a letra dos regulamentos, sem que dai resulte qualquer consequência, como prevejo, e utilizou a ironia com a mestria que lhe é característica ao focar -se na nomeação de Lucílio Baptista, na altura já oficializada, como sobremesa gostosa em ambiente por certo a rebentar de ansiedade pelas prometidas revelações a propósito de uns mistérios que por aí cirandam e que tão mal se dão com a ética.
Como o presidente portista não é pessoa de debitar retórica sem avaliar o peso das palavras, não me custa acreditar na proximidade de algum furacão, mas sou incapaz de descortinar a razão que o levou a prenunciar raios e coriscos em vésperas do clássico, se, em nome da sensatez, o podia ter feito depois. A surpresa, porém, é que, quase em simultâneo, depararam-se-nos notícias sobre vaga de ameaças telefónicas dirigidas a árbitros que apitaram ou poderão apitar jogos do Benfica. Ameaças presumivelmente disparadas de Inglaterra. Divulgaram-se nomes de ameaçados, mas não se esclareceu se a lista é definitiva ou sujeita a acertos. Ficámos a saber ainda que o presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, Vítor Pereira, também foi ameaçado, apenas subsistindo dúvidas em relação a um aspecto importante: o caso foi participado à Policia ou ainda se encontra em fase de avaliação de estragos? Como ele já concluiu, ou alguém lho recomendou, a melhor maneira de manter o equilíbrio na confraria do apito é ficar calado, ou falar o essencial, mas fugindo sempre de perguntas incómodas. Agora, no entanto, em respeito pela verdade, sobra-lhe uma solução, a de contar tudo direitinho, e depressa. Não o fazendo, ajuda a cavar a sua descredibilização ao dar cobertura a todo este emaranhado que, até prova em contrário judicialmente demonstrada, se resume a fedorenta conspiração de baiuca.
Esta história dos telemóveis esgotava -se na sua ridicularia se não pairasse a suspeita de por detrás dela se esconder uma teia de conveniências motivada por objectivo comum: combater o Benfica, retardar a sua ascensão desportiva e impedir, primeiro, que seja campeão nacional e, segundo, que entre na Champions. Significa isto que estão a reunir -se exércitos no sentido de limitar o horizonte de Jorge Jesus ao 3.º lugar.
Quatro pontos atrás da águia e escrutinando nela argumentos e capacidades acima da média, o dragão treme só de admitir que o doce sonho do penta corre riscos sérios de se transformar em pesadelo. De aí assistir-se com naturalidade ao estender de mão ao mais influente dos aliados, o Sp. Braga, união de esforços. Em troca de apoio, ajuda -o a cozinhar em lume brando as justificadas ilusões do seu presidente, António Salvador, por coincidência (mais uma...) outra vitima do bando dos telemóveis. Bom, a este ritmo, daqui a pouco, a dúvida, neste país, e se ainda faltará alguém ser ameaçado...
Tudo isto dá ares de brincadeira de gosto duvidoso engendrada por gente que lida mal com a clareza. Resquícios do lado obscuro do futebol português. O problema não está, nem nunca esteve, nas rivalidades entre emblemas, mas sim nos valores defendidos por quem neles manda e nos caminhos calcorreados para atingir os fins. É precisamente sobre este ponto que tem incidido a cruzada de Luís Filipe Vieira, muito provavelmente, a partir de anteontem à noite, o alvo a eliminar pela falange protectora do imobilismo.
PS - Como esta conversa já se alongou e a Liga vai parar, acerca dos árbitros ameaçados, porquê estes?, assunto que me intriga, escreverei oportunamente.
via: Fórum Benfica
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