quinta-feira, 7 de abril de 2011

As trevas...esquecidas! Ou aquelas coisas que são das "épocas do Pinto da Costa"...

No próximo dia 18 de Julho faz anos que o árbitro Carlos Calheiros, da Associação de Viana do Castelo, embarcou para o Brasil na companhia de familiares, para um justo período de férias repartidas entre o Othon Palace do Rio de Janeiro e o Hotel Sheraton do Recife. A factura da viagem e da estada da família Calheiros foi debitada pela Agência Cosmos ao FC Porto. Por lapso, como mais tarde viriam a explicar o próprio árbitro, o clube e o operador turístico. A efeméride merece ser celebrada por todos os que se preocupam com a causa da arbitragem nacional neste momento em, que passada mais de uma década, se volta a discutir se os juízes de campo devem ser sorteados ou nomeados para dirigir os jogos da Super Liga (e como o devem e por quem o devem ser) A data deve ser lembrada com insistência na face de todos os amnésicos compulsivos para bem do futebol português. O episódio é, por ventura, o mais rocambolesco e o mais exemplificativo de uma época dourada em que os árbitros eram o máximo e só se queixavam dos árbitros os maus perdedores, os invejosos e os passarinhos. Celebremos, então, entusiasticamente o aniversário da viagem de Carlos Calheiros ao Brasil. Foi a SIC quem trouxe o caso para a praça pública, a 1 de Novembro de 1996, e no dia seguinte os jornais desportivos e generalistas não tiveram outro remédio senão dar seguimento ao assunto. «Calheiros, engenheiro de profissão, viajou ao Brasil em Julho de 1995, na companhia da sua mulher e filha, e a factura da deslocação, da agência Cosmos e no valor de 761 contos, apresenta o FC Porto como a entidade a quem deveriam ser debitados os custos das férias. Estranha é também a forma como o ex-árbitro é identificado na factura. O seu nome completo é José Carlos Amorim Calheiros, e no documento aparece como José Amorim», lia-se no «Público». Calheiros reagiu ameaçando com a Justiça. O árbitro, em declarações ao «Independente», clamou e reclamou pela sua inocência: «Vou pôr a Cosmos e o FC Porto em tribunal, por difamação e abuso da minha boa fé. Limitei-me a aceitar uma viagem da Cosmos e agora aparece isto.» Mas a história da viagem de Carlos Calheiros ao Brasil não se ficou por aqui. De acordo com declarações de «um vice-presidente do FC Porto» ao «Público» o imbróglio terá tido início quando o ex-árbitro contactou o clube das Antas para que «o FC Porto, atendendo ao facto de ser um cliente habitual da Cosmos lhe conseguisse um preço especial». «O próprio Carlos Calheiros foi depois à Cosmos tratar das formalidades e, mais tarde, pagou ao FC Porto», acrescentou o anónimo dirigente portista. Esta versão foi confirmada pelo administrador da agência de viagens, António Laranjeiro: «Carlos Calheiros falou com o FC Porto para usufruir das condições especiais que a agência concede ao clube e acertou as contas posteriormente com o clube.» Calheiros apresentou uma perspectiva diferente do assunto: «Informei a Cosmos de que lamentava que, abusivamente, tenha feito seguir para o FC Porto as facturas e os recibos de uma viagem que eu pensava que me tinha sido oferecida e exigi que seja feita a emissão do recibo, que eu sempre pedi e que nunca me foi dado, para que possa liquidar a dívida.» O «Independente» revelaria que na sequência da investigação da SIC, o ex-árbitro terá recebido uma carta do FC Porto, assinada por Diogo Paiva Brandão, director-geral do clube, confirmando que a factura estava contabilizada nas contas do FCP com o número 4144, com a data de 18 de Julho de 1995 e que foi liquidada pelo FC Porto à Cosmos. O semanário teve acesso a esse documento e transcreveu-o: «[a deslocação ao Brasil] foi indevidamente debitada ao nosso clube. Na realidade, devido ao facto de a factura ter sido enviada num conjunto de diversas outras, passou despercebida aos nossos serviços e não foi detectada a irregularidade da sua emissão. Por isso, e dado que o clube já liquidou, por lapso, o respectivo montante à agência de viagens, convidamos Vossa Exª a liquidar de imediato o valor, em escudos, de 761.713, nos nossos serviços para podermos considerar o assunto encerrado.» A verdade é que o assunto ficou mesmo encerrado. Foi esmorecendo nas páginas dos jornais, das ameaças de tribunal nunca mais ninguém ouviu falar, da presumível investigação da Polícia Judiciária também nunca mais ninguém ouviu falar e tudo leva a crer que Carlos Calheiros tenha, finalmente, pago a viagem que julgou ser uma benfeitoria desinteressada e tenha ainda hoje, em sua casa, emoldurados o recibo e a factura desses dez dias no Brasil. Tudo não passou de um lapso. Ou de vários lapsos, se quiserem. Nenhuma organização é perfeita. Era tudo boa gente. "Oba-la-di-ob-la-da...life goes on" The Beatles

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